domingo

Carmen Miranda para Sempre: um ícone musical e fashion.



Tenho muitos registros visuais da cidade de Salvador.

Fotografar a cidade é preciso. Amar a cidade também. Perceber as mudanças/continuidades, avanços/recuos, seja no espaço urbano, seja na mentalidade de uma cultura, é tema para nossas ciências sociais.

Era final de novembro de 2006. Para ser mais exata: dia 26/11/2006.  Num final de tarde de um domingo. Vamos visitar a exposição da Carmen Miranda no MAM, meu bem? Vamos.

E eis que eternizei o momento com as fotos abaixo:





















































 Na Contorno tem a marca inconfundível de Bel Borba.













O baiano é alegre e gosta de mar. Gilberto Gil homenageia essa alegria quando nos diz:

Eu vim
Eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem
Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver
Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
De outro lado o Senhor do Bonfim
Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar
Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia











A exposição sobre Carmen Miranda, no MAM de Salvador,  foi uma das mais belas e ricas que já vi.

 Carmen Miranda apesar de Portuguesa, viveu muitos anos no Rio de Janeiro e nos Estados Unidos. Mas, foi na Bahia que ela encontrou inspiração para seu trajes que a imortalizaram.

Ícone da Música, do Cinema e da Moda, Carmen Miranda é emblemática na influência de estilos. Seu visual foi determinante para a construção de uma estética regional/nacional/internacional da moda brasileira.



 A Era do Rádio.




 Os baús que transportavam as roupas de Carmen Miranda.



Adereços e a invenção da sandália plataforma para a baixinha de 1,53m.


O que é que a baiana tem?





Apesar de se aproximar da figura do malandro carioca, Carmen Miranda foi um dos personagens fundamentais na escolha de um novo símbolo da nacionalidade. Aí já se pode imaginar qual seja ele: a baiana. A aproximação de Carmen com a Bahia já era antiga. No dia 29 de novembro de 1932, Carmen gravou um samba de Assis Valente (baiano radicado no Rio de Janeiro) chamado “Etc.”.
Bahia, que é terra do meu samba
Quem nasce na Bahia é bamba, é bamba
Bahia, terra do poeta
Terra do doutor  et cetera
 
Eu tenho também o meu valor (ora se tenho)
E vivo com muita alegria
O samba é o meu avô
Macumba é minha tia
Sou prima do grande violão
Sou bamba no batuque e no cordão
Meu pai é o homi das muamba
O grande e conhecido candomblé
(...)
Eu gosto muito da viola
A moça feita só de pinho
Parenta do grante interventor
O samba do respeitado cavaquinho
(...)
O delegado tamborim
Com jeito e com diplomacia
Na batucada diz assim:
Que o samba também tem delegacia
A Bahia era muito mencionada  nas canções interpretadas por Carmen Miranda.  Em 1936, por exemplo, ela gravou “No tabuleiro da baiana”, de Ary Barroso, acompanhada de Luiz Barbosa (LB):
LB: No tabuleiro da baiana tem
CM: Vatapá, oi, caruru, mungunzá, oi, tem umbu... p’ra ioiô
LB: Se eu pedir você me dá
CM: Lhe dou
LB: ... o seu coração, o seu amor de Iaiá?
CM: No coração da baiana tem
LB: Sedução, oi, canjerê, ilusão, oi, candomblé
CM: P’ra você
LB: Juro por Deus
Pelo Sinhô do Bonfim 
Quero você, baianinha
Inteirinha p’ra mim
CM: Sim, mas depois
 O que será de nós dois?
Teu amor é tão fugaz, enganador
LB: Mentirosa, mentirosa, mentirosa
Tudo já fiz, fui até num canjerê
P’ra ser feliz
Meus trapinhos juntar com você
CM: Sim, mas depois
 Vai ser mais uma ilusão
Que no amor quem governa
 É o coração
Nesta música, percebemos a utilização da sensualidade que valoriza  a figura da baiana. Quando Luiz Barbosa diz que, no coração da baiana, tem sedução, ele dar-lhe um atributo que toda a mulher sonha em ter.  A sedução e  magia baianas são reafirmadas no decorrer de toda a canção, representando símbolos da cultura popular baiana. A Bahia tinha/tem o elemento de sensualidade tão característico do Brasil, como já pensava Gilberto Freyre. Foi  com a composição “O que é que a baiana tem”  que  encontramos a canção mais marcante na definição da baiana,  como representante de uma identidade para o Brasil. 
Morreu jovem, mas construiu uma imagem que se eternizou. Linda, marcante, artística Carmen Miranda.

Sobre a exposição:
Depois do sucesso de público e crítica nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, chega a Salvador a exposição “Carmen Miranda Para Sempre”, a maior e mais completa mostra já realizada no país sobre a artista. Entre os dias 28 de outubro e 26 de novembro, o Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão) vai abrigar a exposição que conta a história de Maria do Carmo Miranda, a primeira estrela internacional que o Brasil produziu.

Patrocinada pela Petrobrás e coordenada pela CMG Worldwide, a mostra reúne trajes, jóias, partituras, discos, artigos de jornais, capas de revistas e fotos. A curadoria é de Fabiano Canosa, com direção de arte e cenografia assinadas por Cláudio Amaral Peixoto e Cláudio Fernandes. Escritor e biógrafo de Carmen, Ruy Castro é o responsável pela consultoria e pelos textos. “A repercussão nacional e internacional das etapas anteriores da exposição permitiu que buscássemos novos horizontes e a Bahia, dada a sua significativa influência na carreira de Carmen Miranda, não poderia deixar de ser a próxima parada”, destaca Kitty Monte Alto, vice-presidente da CMG e coordenadora geral da mostra.

Foi entre 1929 e 1939 que Carmen se transformou na Pequena Notável (apelido dado pelo radialista César Ladeira), musa da Rádio Nacional. “Foi uma década
memorável. A Europa enfrentava a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, assistia-se ao início do Estado Novo de Getúlio Vargas”, lembra Canosa, amigo de parentes da estrela há mais de 20 anos. “O público vai entender esse contexto”, promete. Na exposição, a trajetória da estrela é traçada de forma não-linear, sem começo e fim definidos. “A linha é sinuosa, curvilínea, como as coreografias de Carmen. O desenho da exposição é circular, ela começa e acaba em si mesma porque esse mito não acabou, continua dentro de nós”, pondera o diretor de arte da mostra, Cláudio Amaral Peixoto.

Dois grandes núcleos – Brasil e Estados Unidos – dividem a exposição. Na parte brasileira, o visitante poderá entrar em contato com a discografia da estrela, além de conhecer personagens fundamentais em sua carreira, como o Bando da Lua e a irmã, também cantora, Aurora. Neste espaço, serão exibidos trechos de filmes e uma sessão diária do documentário “Bananas is my business”, de Helena Solberg, vai dar uma noção mais clara da carreira da Pequena Notável no Brasil. “Vamos criar diversos ambientes, com linguagens visuais distintas, permitindo várias experiências ao visitante. Além disso, a montagem baiana será diferente da vista no Rio e em São Paulo em virtude da morfologia do espaço e do próprio conteúdo da mostra, que foi ampliado”, explica Cláudio Fernandes, diretor da Clan Design, empresa
produtora da exposição.

É neste núcleo que o público contará com uma novidade em relação às exposições anteriores: o Módulo Bahia, que vai recriar o cenário da Bahia da década de 30. Uma justa homenagem ao lugar que tanto influenciou Carmen Miranda, através da sua música, com Dorival Caymmi, e pelos trajes típicos das baianas que a atriz estilizou e eternizou em seus espetáculos mundo afora. Inspirado em “O que é que a baiana tem?”, que se tornou famosa na voz da cantora, uma réplica do famoso figurino do filme “Banana da Terra” ficará exposta. Pelo ambiente, fones de ouvido serão espalhados disponibilizando músicas da coletânea “Carmen Canta Bahia”, organizada por Ruy Castro. Dentre os sucessos, clássicos como “No tabuleiro da baiana”, de Ary Barroso, “Baiana do tabuleiro”, de André Filho, e “O que é que a baiana tem?”.

No núcleo americano, localizado no segundo andar do MAM, o foco se volta para as produções das quais Carmen fez parte, nos estúdios de Hollywood, na Broadway e em outros palcos. “Carmen levou apenas seis minutos para se tornar um nome nos Estados Unidos”, relata Ruy Castro. Um telão, montado sobre a reprodução do cenário de cabaré do filme “Uma noite no Rio”, exibirá as cenas de shows que a artista protagonizou no cinema americano e vai fazer o visitante
mergulhar no universo da produção de época.

Outro destaque da exposição é o núcleo fashion, que mostrará, através de trajes sociais e figurinos, a influência deste ícone na moda brasileira e internacional. Alguns trajes originais, pertencentes ao Museu Carmen Miranda, foram restaurados especialmente para a mostra. O módulo também apresentará reproduções feitas por grandes estilistas brasileiros como o carioca Carlos Tufvesson e o amazonense Napoleão Lacerda.

Carmen Miranda morreu em 1955, aos 46 anos, e seu enterro levou mais de meio milhão de admiradores às ruas do Rio. Como parte de seu legado, deixou 322 músicas gravadas e grandes participações no cinema nacional, nos estúdios de Hollywood e nos palcos da Broadway. Carmen se firmou como nossa maior artista e expandiu seus horizontes além-Brasil, entrando no inconsciente coletivo mundial devido à sua personalidade única e seu incomparável carisma. “A imagem de Carmen pertence ao panteão do show business somente reservado aos Beatles, James Dean e Marilyn Monroe. O século XX não poderia pedir mais”, complementa Canosa.
Serviço:
Carmen Miranda para Sempre
De 28 de Outubro a 26 de Novembro de 2006 (abertura para convidados: 27 de Outubro)
MAM (Museu de Arte Moderna) – Avenida do Contorno, s/no, Solar do Unhão – Salvador
Tel.: (71) 3117-6130 / 6131
Horário de funcionamento: De terça a domingo, das 13h às 19h.
Entrada Franca


 

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