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sábado

Poesia de ano novo

Que o novo ano seja promessa, alegria, lealdade.
De um mundo melhor, que os novos 365 dias sejam oportunidade.
Muita fé e esperança, gratidão e reconhecimento, amor, saúde e amizade. 
É o que te desejo de verdade.

31/12/2014

terça-feira

Poesia para esta manhã

"Infelizmente não são só as gerações que envelhecem uma após a outra ; envelhece também a raça em conjunto."
Joaquim Nabuco

Em homenagem ao dia do escritor



 Folhas em branco no meu caderno
Novas páginas? Ou ficará como está?
As letras mágicas insistem em saltar
O que é que faço  se entrelaçam como em  nó?

Contei coisas do passado.
Depois, rasguei. Quem se importa?
Tentei reescrever no papel amassado
Letra apressada, linha certa e escrita torta

Histórias do presente.
Sonho floral e fluorescente
Nuvem em formato de seu rosto de repente
O que farei com esse ardor crescente ?

O futuro que se mostra incerto, inusitado
Parece uma história inconclusa de mil finais
Contos, poesias, romances de tristezas e ais
Foram felizes para sempre era o combinado

As páginas se reescreveram no amanhã
Tão belas que pareciam incríveis
Ou um sonho na cadeira do divã ?

Novos finais que pareciam impossíveis
Construíram-se quando se quis pensar
Em Kundera e nos seus amores risíveis.
Feliz Dia do Escritor – 13.10.2015
Ezilda Melo

sábado

Homenagem ao Poetinha

Começo com Vinicius de Moraes, de longe meu poeta preferido. O mundo todo cabia dentro dele. Se era amor ou não, o que ele escrevia conquista qualquer pessoa (ate hoje), e era o bastante para ele ser feliz e fazer as outras pessoas felizes. Quatro poesias do poetinha, nascido sob o signo das emoções:
Poema Enjoadinho
Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
Conjugação da Ausente
Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra, na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas; fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.
E no entanto avistava à poucos passos
Sua forma feminina que não era
Nenhuma outra forma feminina, mas a dela
A mulher amada
O DIA DA CRIAÇÃO
Rio de Janeiro , 1946
Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábio
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Poesia das seis

Nem precisamos do escudo de Athenas contra a Medusa
Ninguém olha nos olhos querendo enxergar lá dentro
É nossa caverna, é a prisão
Vê-se imagens distorcidas, ressequidas, fantasmagóricas do que projetamos ser o outro
Simulações horizontais de uma flor no quadro
Isso é uma flor? Isso é um cachimbo? Ou é o amor?
No canteiro do jardim está a realidade da tela
Eternizar na fotografia, na pintura, na poesia a visão de uma essência que não se diz, precede ao conceito e à formulação do nosso olhar
Eis que nem tudo está perdido
Porque a borboleta bate asas e constrói seu vôo
Encontra a flor e embriaga-se do néctar
E quer mais
Anseia o futuro
Faz previsões mitológicas, astrológicas, numerológicas
Tentativas de conter a inexatidão das linhas tênues de uma liquidez esfumaçante no castelo dos vampiros ancestrais
Pobre Dom Quixote, andante e solitário
Somos um retrato da incomprensão humana, tão mascarada por tatuagens que escondem a pele e a alma
E conhecer é um trajeto não-linear em um rodovia mal sinalizada...


Ezilda Melo

Dia da Poesia: 14/03. Que sempre sobre poesia...

Mar e Rio
Um ano depois, eis-me aqui. Sentindo a dor, sei o que é tristeza
Das profundezas do meu mais intimo ser
Não quero a eternidade para me conhecer
Talvez, a grande verdade é que não há beleza...
Não me diga o que quero ouvir
Entre nós existem silêncios do ouvido
Mordaças banham a tarde do esquecido
Para retumbar na cama do dormir
Nada será como antes, diz a velha amante
Nem futuro existirá
Porque você já se foi para não mais voltar
Foi cedo demais e deixou o rastro distante
Há’ um mar e um rio escuro
Noites de calor, um banho frio
Chuva, sol, gotas de suor, lagrimas... tudo sombrio
Tanta vida, tantos que não chegaram ao futuro
Maldigo os chineses e a invenção da pólvora
Como também os bancos e os cheques sem fundo
A vida é um malogro, um engano, um coração descompassado
Que bate e chora por ontem e pelo agora
Senhores de armas, engano puro
Num sábado, `a traição e na hora de Maria
Ganância. Ambição em busca do impuro ouro
É muita tristeza, é muita melancolia...
Ai, meu Deus, que angonia
Seja de noite ou de dia
Nada tira seu sangue do pensamento
Queria que você voltasse, nem que fosse por encantamento.
Ezilda Melo

Baudelaire e a sensualidade




As Jóias
A amada estava nua e, por ser eu seu amante,
Das jóias só guardara as que o bulício inquieta,
Cujo rico esplendor lhe dava esse ar triunfante
Que em seus dias de glória a escrava moura afeta.
Quando ela dança e entorna um timbre acre e sonoro,
Este universo mineral que à luz figura
Ao êxtase me leva, e é com furor que adoro
As coisas em que o som ao fogo se mistura.
Ela estava deitada e se deixava amar,
E do alto do divã, imersa em paz, sorria
A meu amor profundo e doce como o mar,
Que ao corpo, como à escarpa, em ondas lhe subia.
O olhar cravado em mim, como um tigre abatido,
Com ar vago e distante ela ensaiava poses,
E o lúbrico fervor à candidez unido
Punha-lhe um novo encanto às cruéis metamorfoses.
E sua perna e o braço, a coxa e os rins, untados
Como de óleo, imitar de um cisne a fluida linha,
Passavam diante de meus olhos sossegados;
E o ventre e os seios, como cachos de uma vinha,
Se aproximavam, mais sutis que Anjos do Mal,
Para agitar minha alma enfim posta em repouso,
Ou arrancá-la então a rocha de cristal
Onde, calma e sozinha, ela encontra pouso.
Como se a luz de um novo esboço, unidade eu via
De Antíope a cintura a um busto adolescente,
De tal modo que os quadris moldavam-lhe a bacia.
E a maquilagem lhe era esplêndida e luzente!
- E estando a lamparina agora agonizante,
Como na alcova houvesse a luz só da lareira
Toda vez que emitia um suspiro faiscante,
Inundava de sangue essa pele trigueira.

Spleen e Ideala – As Flores do Mal
BÊNÇÃO
Quando, por uma lei das supremas potências,
O Poeta se apresenta à platéia entediada,
Sua mãe, estarrecida e prenhe de insolências,
Pragueja contra Deus, que dela então se apiada:
"Ah! Tivesse eu gerado um ninho de serpentes,
Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!
Maldita a noite dos prazeres mais ardentes
Em que meu ventre concebeu minha desgraça!
Pois que entre todas neste mundo fui eleita
Para ser o desgosto de meu triste esposo,
E ao fogo arremessar não posso, qual se deita
Uma carta de amor, esse monstro asqueroso,
Eu farei recair teu ódio que me afronta
Sobre o instrumento vil de tuas maldições,
E este mau ramo hei de torcer de ponta a ponta,
Para que aí não vingue um só de teus botões!"
Ela rumina assim todo o ódio que a envenena,
E, por nada entender dos desígnios eternos,
Ela própria prepara ao fundo da Geena
A pira consagrada aos delitos maternos.
Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,
Inebria-se ao sol o infante deserdado,
E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante
Há um gosto de ambrósia e néctar encarnado.
Às nuvens ele fala, aos ventos desafia
E a via-sacra entre canções percorre em festa;
O Espírito que o segue em sua romaria
Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.
Os que ele quer amar o observam com receio,
Ou então, por desprezo à sua estranha paz,
Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,
E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.
Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto
Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;
Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,
E se arrependem pó haver cruzado os passos.
Sua mulher nas praças perambula aos gritos:
"Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,
farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,
e assim, como eles, quero inteira redourar-me;
E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,
De nardo e mirra, de iguarias e licores,
Para saber se desse amante tão intenso
Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.
E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,
Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;
E minhas unhas, como as garras das Harpias,
Hão de abrir um caminho até seu coração.
Como ave tenra que estremece e que palpita,
Ao seio hei de arrancar-lhe o rubro coração,
E, dando rédea à minha besta favorita,
Por terra o deitarei sem dó nem compaixão!"
Ao céu, de onde ele vê de um trono a incandescência,
O Poeta ergue sereno as suas mãos piedosas,
E o fulgurante brilho de sua vidência
Ofusca-lhe o perfil das multidões furiosas:
"Bendito vós, Senhor, que dais o sofrimento,
esse óleo puro que nos purga as imundícias
como o melhor, o mais divino sacramento
e que prepara os fortes às santas delícias!
Eu sei que reservais um lugar para o Poeta
Nas radiantes fileiras das santas Legiões,
E que o convidareis à comunhão secreta
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.
Bem sei que a dor é nossa dádiva suprema,
Aos pés da qual o inferno e a terra estão dispersos,
E que, para talhar-me um místico diadema,
Forçoso é lhes impor os tempos e universos.
Mas nem as jóias que em Palmira reluziam,
As pérolas do mar, o mais raro diamante,
Engastados por vós, ofuscar poderiam
Este belo diadema etéreo e cintilante;
Pois que ela apenas será feita de luz pura,
Arrancada à matriz dos raios primitivos,
De que os olhos mortais, radiantes de ventura,
Nada mais são que espelhos turvos e cativos!".
O INIMIGO
A juventude não foi mais que um temporal,
Aqui e ali por sóis ardentes trespassado;
As chuvas e os trovões causaram dano tal
Que em meu pomar não resta um fruto sazonado.
Eis que alcancei o outono de meu pensamento,
E agora o ancinho e a pá se fazem necessários
Para outra vez compor o solo lamacento,
Onde profundas covas se abrem como ossários
E quem sabe se as flores que meu sonho ensaia
Não achem nessa gleba aguada como praia
O místico alimento que as farás radiosas/
Ó dor! O tempo faz da vida uma carniça,
E o sombrio Inimigo que nos rói as rosas
No sangue que perdemos se enraíza e viça!
O AZAR
Castigo assim tornar tão leve
Somente a Sísifo se cobra!
Por mais que mão se ponha à obra,
A Arte é longo e o Tempo é breve.
Longe dos túmulos famosos,
Num cemitério já sepulto,
Meu coração, tambor oculto,
Percute acordes dolorosos.
- Muito ouro ali jaz sonolento
em meio à treva e ao esquecimento,
esquivo à sonda e ao enxadão;
E muita flor exala a medo
Seu perfume como um segredo
Nas mais profunda solidão.

Ser(tao) bom!

Ser cada dia melhor é:
Não ter medo de recomeçar,
Fazer o bem sem olhar a quem;
Amar a família e os amigos;
Dar proteção aos filhos;
Ser gentil e atenciosa com as pessoas;
Não guardar rancor, raiva ou mágoa;
Ter Deus no coração!!!



Ezilda Melo

sexta-feira

O Amor Debênture

O Amor Debênture
Pior que o vazio epistemológico é o vazio existencial.
Pior que o mau humor é a falta de delicadeza.
Bocas bonitas e grilhões de aspereza.
Não esqueça: sorrir é essencial!
Sabores não são iguais; podem ser parecidos.
As pessoas que te ouvem são as mesmas que falarão.
Quando o olhar sentir medo, as pernas te levarão.
Na memória, os amores esquecidos...
Se te tratar como qualquer uma, mande pastar
Porque merece achar qualquer outra
Tenha cuidado com ególatra
Isso é um bom conselho: pode acatar
Pensamentos insones, deixe-os dormir...
Não ha mal que perdure
Nem fortuna que dure
Corra. Tente se distrair
A vida é um acaso, deixe-a ir
Ha quem aposte no amor como se fosse debênture
Ezilda Melo

quarta-feira

Poesia de Ano Novo

Aos amigos,

Que o novo ano seja promessa, alegria, lealdade.
De um mundo melhor, que os novos 365 dias sejam oportunidade.
Muita fé e esperança, gratidão e reconhecimento, amor, saúde e amizade.
É o que te desejo de verdade.

Ezilda Melo

terça-feira

#TOC40 - Poesia no Twitter

 
 
Minhas Poesias para o #TOC40 :
 
 
@ProfEzildaMelo2h @fliportope Vá pelas veredas das incertezas e das dúvidas, pelos traços não-lineares dos espirais nos arco-íris de sonhos de ilusão. #TOC140
@ProfEzildaMelo2 h @fliportope A lágrima desce no rosto. Não é salgada. É uma doce ilusão que escorre d'alma. #TOC140
@ProfEzildaMelo2 h @fliportope Insustentável ser na aurora do alvorecer. Peso do existir no partir.#TOC140

quinta-feira

Seis horas


Seis horas. Brilhantes inquietudes, em portas abertas, que revelam à consciência a dúvida atroz de anseios irreais. Oportunidades indissolúveis que reverberam a consciência de cada um. Meu eu, teus nós, em nós. Simultaneamente, olha-se para a solidão. Vê-se diferente. Seu olhar é a desaparição dos olhos meus. Outro, um ser para mim que transcende meu eu.  Capto, adquiro, experimento sua presença dissoluta em meu olhar objetivo. Querer-me subjetiva e liquidamente. Marshall que desmancha na ponta da língua ou na leitura da mensagem. Bauman na liquidez de outrora. Sonhos reais em meio ao porvir para te salvar de ti.
---------
Quando o encanto passar, ficarão lembranças, poeiras do tempo vento que sopra à cada instante, à cada momento... Redemoinhos de passado e futuro no breve instante passageiro do presente...

quarta-feira

Orientada


 
 
Orientada

Guia-te pelas veredas das incertezas
Pelos caminhos das dúvidas
Pelos traços antagônicos não-lineares
Dos circulares espirais dos arco-íris em brasa
Queimam em corpos ardentes
De sonhos de ilusão
Guia-te pela orientação do seu ser
És a orientada
Que desorienta
Coordenada em viés existencialista
Segundo sexo de um máxima hipócrita
Rasteira, medíocre
Definição da Razão
Sem Emoção
És tudo. Ou nada. Meio e fim da valsa dissonante em cordas
Toca fundo, profundo na alma
Com tatuagem em flor
Que corta como diamante de seda
Na miragem dos olhos distantes
Em regozijo da alma recôndita

Outra vez
Porque sonhar é preciso, fundamental, transcendental, necessário
Para mim! Sou eu, a que orienta.
Não sou bússola. Sou pêndulo caótico.

 

segunda-feira

L’ecume dês Jours


L’ecume dês Jours

Há gerânios nas articulações frontais das maçãs de seu rosto
Com gosto de baunilha
Toma de sua boca as taças de vinho cálido da última estação
Resquícios florais da saliva nos lençóis e na pele de pêssego...

Ficaram lembranças das espumas dos dias
Com cheiro de morango
Os cabelos são música no toque dos dedos velozes
Bem-me-quer sem lamentação
Flor apetitosa de pétalas macias
Lembra um flamboyant vermelho
São flores de Frida
Em segredo
Mistérios dos beijos das borboletas no jardim do coração
Cresce uma Ninfeia de Monet
Em singela harmonia do ser
Os ponteiros marcam as horas persistentes da memória: são seis horas!

sábado

Poesias pingadas

"Minha alma pergunta por você
E sei o que responder
Por isso, poeta, perdoe esses tristes ecos
que ainda ressoam do sentimento que gritou"

"Dois presentes para seus ouvidos e memória:
para viver um grande amor e alegre menina.
Ouça e lembre da Bahia"

"Poeta, temos a realidade e a poesia.
Temos a romaria na insensatez solar e na lua de são jorge.
E o destilar do mel na noite da quinta.
De você, quero as palavras. Vamos fazer poesia
Antes de tudo, o verbo.
No abismo do infinito, quando a palavra ressoou, fez-se carne.
Quero a sua poesia. Quero amor".

E o poeta poderia dizer:

"Maria Bonita, maior que o silêncio, a poesia.
Nas palavras suadas, as gotas de inspiração"

E a poeta replicar:

"Seis horas. O vento vazio lá fora não diz quem sou
Maria Bonita melodiosa, que não posso mudar
Aqui e ali, o importante é onde estou
Feliz ou triste, vim para ficar"

E ouço os passarinhos e "Azul" de Djavan.

E passeio na tarde de domingo. Vou ao teatro. E para combinar: um blue jeans e uma camiseta branca, com estampa de barquinho. E uma sapatilha xadrez, azul e branco.

"O homenageado merece o traje gracioso" - Referindo-se a Drummond.

"Mais um vez, peço licença a vocês
para compartilhar a poesia das seis":

"Seis horas. Depois do blue do dia, sinto o colorido, cheiroso e harmonioso, da noite"

É a poesia da menina crepuscular, de poezilda, forte, guerreira, que enfrenta tudo na raça, e arremata cada dia como no forte da rede de pescar sonhos...

"Seis horas. Precisamos beber mais água de açude, comer mais caatinga, cheirar mais bugaris, beijar mais luas, lamber mais as estrelas dos sertões, desejar mais o verde e escutar mais Luís Gonzaga".

E a resposta: "E assim: de mais a mais, ser humilde como o segundo que flutua no agora, sendo um só e sempre presente".

E a resposta da terceira: "Um tronco de árvore, um pequeno galho, uma xícara de café, um pedaço de totra. Natureza morta? Não importa... em águas profundas é onde se pesca um peixe grande! Além dos olhos, no escuro do coração"

"Seis horas. Nova lua. Resto de velharia. O agora é monotonia. Os acasos, as estrelas, o céu e a repetição da poesia"

E a resposta do segundo: Um espelho antigo de pedras, um ouvido sujo mais atento. Com o pouco que tenho, tento ser expectador do ser..."

E a réplica da primeira: "sua presença está em mim, como uma página amarelada, com uma flor guardada, para uma surpresa futura"

Disse: três dias, três noites
Um café pingado
Um violão
Um livro
Um jeito suave de dizer não

Uma voz, a tal da voz ... a voz

Hoje, não estou em mim. Uma ansidedade já me fez sair. Queria seu colo, seu ombro, seu abraço. E. pergunto, será que queria? De um amigo, tudo.

Não é não. Disse: talvez esteja em você como uma voz dançando com a sua... Te entendo bem...

Seis horas. Um riso de Monalisa fino, suave e clássico. Olhe para o alto. Você verá. Virtual. real. Natural. Temos o neo nas aventuras de "pi" e do "pa-pa". Lua nova. O velho. Rerum Novarum" 

Pipa. Vamos para lá.

"Seis horas. Espumas flutuam. Sonhos dançam. Clarea a saudade. É hora do adeus. Sorria. hoje é poesia. E tudo tem seu dia".

E a terceira responde: Dia de poetizar. Poeira. Vento. Pó do poema. Pena e papel"

E o segundo: "Existem vozes crespas, como cabelos crespos. E poesias risonhas como pessoas
risonhas".

As vozes crespas são fortes e tocantes.

Deu tudo certo. O crepúsculo e seu apogeu.

Odes e vinhos a Dioniso.

E Nietzsche sorriu. E ficou comigo e em mim. Entregou-me no círculo. Estou dançando, ouvindo os ditirâmbicos e não sinto o chão. Sinto o ar.








quinta-feira

Corte Pequeno e Profundo

 
No café da manhã
Um rasgo na mão
Uma dor da faca
Que entrou na carne
sangrou e a ferida me deixou...
Um ai. Um raio-x. Uma sutura.
Um pedaço de mim que cortou...
Uma dor que dilacera, que rasga, que fere, o que recordou...
Navalha a carne,
corre vermelho - a minha cor.
Anestesia que agonia o meu início de dia...
Escrever com sangue,
tirar do abismo da alma, o que sou...
Um acidente com uma faca é melhor do que um atropelamento.
Cuidado: a vida é um caos em trânsito,
Um destino trágico ou um engarrafar de pensamento.
Eis, uma poesia para a dor...
 
Ezilda Melo
Salvador, 28/03/2013

Dia da Poesia



                                 Hoje é dia da poesia. "Dia branco para bordar flores e amores". E.C.M.


O dia 14 de março é o dia do natalício do baiano Castro Alves. A ele todas as homenagens que a palavra pode expressar. E mesmo assim será pouco. Ler Castro Alves é entrar num mundo de sensibilidade que não nos cabe dizer, somente sentir. É inebriante, sensorial, vertiginoso. Sobre a poesia ele nos diz:

"A poesia - é uma luz... e a alma - uma ave...
Querem - trevas e ar.
A andorinha, que é a alma - pede o campo.
A poesia quer sombra - é o pirilampo...
Pra voar... pra brilhar".     Castro Alves. In: Espumas Flutuantes. Poesia: Sub Tegmine Fagi.

A mais bela homenagem já feita a Castro Alves, foi de seu amigo Ruy Barbosa, na obra "Elogio a Castro Alves", que pode ser acessada: http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_ElogiodeCastroAlves.pdf

"Ele palpita na sua obra poética, de que, como da sua vida, foi um poderoso fautor. O mais íntimo de sua alma, impetuosamente apaixonada pela verdade, pelo belo, pelo bem, comunicou sempre com as alturas alpinas do seu gênio por um jato contínuo dessa lava sagrada, que fazia dos seus lábios uma cratera incendiada em sentimentos sublimes. Aos que não estremecerem a esse influxo, não me incumbo de demonstrá-lo. O coração não se prova com o escalpelo ou o silogismo: sente-se por uma afinidade impalpável, como o sentireis hoje nalguns dos seus acentos, ainda faltando-lhe agora o encanto daquele órgão irresistível, um desses que transfiguram o orador ou o poeta, e fazem pensar no glorioso arauto de Agamemnon, imortalizado por Homero, Taltíbios “semelhante aos deuses pela voz”. Ruy Barbosa sobre Castro Alves.

terça-feira

Reflexões de Nietszche sobre o Dionisíaco


«A alma que tem a mais longa escada
e mais ao fundo pode descer,
a alma de maior amplitude, que mais extensamente
em si pode correr, errar e vaguear, a de maior necessidade,
que com prazer se precipita no acaso, a alma que é, que se
entrega ao devir,
a que tem vontade e ânsia
e nestas quer ainda mergulhar,
a que foge de si mesma, que a si mesma se recupera
nos mais amplos círculos, a alma mais sábia,
e que a loucura com toda a doçura convence,
a que mais a si mesma se ama, em que todas as coisas
têm o seu fluxo e refluxo,

a sua baixa-mar e preia-mar.»
In: Ecce Homo

Soneto do 09 de março

 As flores que recebi, aos maços
Apertadas em seda e em laços
São expressões, são vestígios de um coração
Acostumado em conquistar uma paixão

Não me contento em ver, da janela, a pequena brecha de sol
Quero mais: quero o céu num paiol
E peixes furta-cor, pescados em sonho, sem anzol
Quero mosaicos, paetês e retalhos, não quero ser caracol

Quero a elegância do homem no olor
Quero seu olhar sincero em furor
Quero o peso do seu ardor

Sentir seus beijos e seu calor
Saber de atitudes e exemplos de valor
Tudo isso sem sentir dor. Só amor.

sábado

As seis horas, de três dias.

De quarta:
Seis horas. Um restinho de sol lá fora. Na boca da noite um cheiro de mar.
Um passarinho voa. Alguém ri e transborda o sentir. A compreensão da lei da natureza humana.



De quinta:
Seis horas. Sinto cheiro de jasmin. E ouço o som morno de uma harpa imaginária.
No arco-íris da imensidão, o crepúsculo alaranjado, o cinza das nuves, o esmeralda do mar... são
tintas da tarde que prenunciam o vinho da noite.



De sexta:
Seis horas. Nuvens rosadas que combinam com o dia. Não é triste, nem sofrida, nem tampouco vazia.
Perfumados botões de rosa são gerados em sua vida.
Um dia hão de chorar na hora da de despedida.


Observação: as fotos não são minhas.