quinta-feira

Viajando nas Trilhas de Jorge Amado



No terceiro andar da Biblioteca Pública, no Projeto Música no Áudio, o setor de audiovisual está fazendo uma homenagem ao centenário do grande autor baiano, consagrado mundialmente, Jorge Amado. Apresenta ao público uma mostra de trilhas sonoras, inspiradas nas principais obras de um autor que já foi traduzido em 55 países,  através de compactos de discos de vinil.


Fui recepcionada pela Coordenadora do Setor, Sra. Raquel Oliva, muito atenciosa e afável em várias explicações sobre o Projeto. Inclusive, relatando-me a tristeza por muitos jovens desconhecerem o formato vinil.


Há três painéis com vinis, além de matérias de jornais, fotos, revistas, livros e rascunhos de Jorge, o Amado, em obras como Jubiabá, Capitães de Areia, Mar Morto, Gabriela. Todos os rascunhos expostos são datilografados.


O primeiro é "Gabriela". A capa com Sônia Braga nos faz recordar uma personagem que tem vida:


Esse LP tem a seguinte ficha técnica:


Coordenação Geral João Araújo.
Direção de Produção: Guto Graça Mello
Assistentes de Produção: Perinho Albuquerquer / João Melo / Paulinho Tapajós / Roberto Santana
Arranjadores: Guto Graça Mello / Dori Caymmi / Oscar Castro Neves / Perinho Albuquerque e João Donato (olha ele aqui de novo).


No Lado A temos:


Coração Ateu - Maria Bethania
Guitarra Baiana - Moraes Moreira
Alegre Menina - Djavan
Quero ver subir, quero ver descer - Walter Queiroz
Horas - Quarteto em CY
São Jorge dos Ilhéus - Alceu Valença
Modinha para Gabriela - Gal Costa e arranjo de João Donato


No lado B:
Filho da Bahia - Fafá de Belém
Caravana - Geraldo Azevedo
Porto - MPB 4
Retirada - Elomar
Doces Olheiras - João Bosco
Adeus - Walker 


Essa trilha sonora é imperfectível.


Jorge Amado chegou a declarar: "não escrevi meu primeiro livro pensando em ficar famoso. Escrevi pela necessidade de expressar o que sentia...". A obra dele mostra a Bahia mais Bahia que existe. Nascido em Itabuna, faleceu em 2001, aos 88 anos. 


Os personagens de Jorge Amado são inesquecíveis. E o amor de Zélia e Jorge, sob o prisma de Nelson Rodrigues, era de fato amor: "se é amor, não acaba". No Pelourinho, temos a Fundação Casa de Jorge Amado. Só se vê na Bahia.


O segundo vinil em exibição é: Tieta, tendo Isadora Ribeiro na capa, agarrada num coqueiro, tendo atrás de si um barco no mar.




Quem esquece o refrão "Tieta do Agreste...?". Impossível esquecer.


Lado A do LP Tieta:
Meia-Lua Inteira - Caetano Veloso
Tudo que ser quer - Emilio Santiago e Verônica Sabino
No Rancho Fundo - Chitãozinho e Xororó
Paixão Antiga - Tim Maia
Paixão de Beata (Neném Mulher) - Pinto do Acordeon
Tieta - Luiz Caldas
Segredos da Noite - Instrumental


Lado B:
Coração do Agreste - Fafá de Belém
Eu e você - José Augusto
Cadê o meu amor? - Quinteto Violado
Amor Escondido - Fagner
Por você com você - Guilherme Arantes
Tenha Calma - Maria Bethania
Imaculada - Instrumental


Vinicius de Moraes, o poeta que consagrou Itapuã, escreveu que "Jorge Amado liberta os personagens de sua própria teia psicológica e os faz saltar, vivos e ardentes, para o lado de cá do livro". 


Verdade mais que pura. Real. 


Por fim, o terceiro vinil da mostra "Viajando nas Trilhas de Jorge Amado", temos Tenda dos Milagres.




Milagres do Povo - Caetano Veloso
Livre - Beth Bruno. De: Roberto Mendes e Mabel Veloso
Olhos de Xangô (afoxé) - Moraes Moreira. De: Moraes Moreira e Fausto Nilo
É d'óxum - MP4 - De: Vevé Calazans e Gerônimo - essa música é uma das belas declarações de amor à cidade de Salvador.
Eloiá - Dudu Moraes
Flor da Bahia - Nana Caymmi ( e por falar em Nana Caymmi, teremos show dela no TCA, dia 13/01/2012) - De: Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Oiá - Danilo Caymmi
Amor de Matar - Tânia Alves - De: Jorge Portugal e Roberto Mendes
Afoxe - Dorival Caymmi
Maluco pra te ver - Walter Queiroz - De: Walter Queiroz e Vevé Calazans.


Vi a exposição e fiz questão de detalhar cada qual dessas músicas. Elas são fonte de inspiração, repertório para shows, resgate da música jesuína que consagrou tantos nomes da música brasileira, tendo como enfoque uma Bahia, hoje idílica, mas imortalizada, seja na obra do Amado, de quem o amou, ou foi amado por ele. 


Apesar de ter gostado muito da mostra de vinis, senti falta do som na sala da exposição.


Procurei na internet a caricatura que Niemeyer fez para Jorge Amado. Vi impressa há muito tempo em uma revista. Quem tiver ou puder me mandar, já está feito o pedido.


Dentro da casa de Jorge Amado, no Rio Vermelho, havia o Teatro Zélia Gattai. Alguém sabe o motivo de não funcionar mais?


Deixo abaixo dois textos. O primeiro trata sobre o resgate do Vinil pela indústria fonográfica. Boa notícia.



Viva! O velho Vinil está de volta!

Leio com uma certa felicidade -nada de saudosismo!- a volta de conforça do velho amado, idolatrado e salve salve disco de vinil. O inesquecível LP que milhares de pessoas (ou talvez milhões) não esquecem por Ns motivos, mas principalmente pelo som diferenciado e pelas capas perfeitamente belas que se pode produzir, está de volta. 
Cantores e bandas tradicionais aderiram ao Vinil
O velho "bolachão", "bolacha preta", alguns adjetivos que o Vinil ganhou pela sua longa vida, na verdade nunca deixou de estar presente no dia a dia dos amantes da boa musica. Colecionadores, Roqueiros, discípulos de um bom som, como este escriba que se enquadra modestamente como um deles, nunca abandonaram a vitrola, ou toca discos. E não é por nenhum saudosismo, não. Ao contrário, o som do vinil, mesmo não sendo tão límpido como o do CD, é mais puro em termos de qualidade sonora, apesar do chiadinho natural. A antiga agulha, que já não se sabe onde procurar quando não está perfeita (tinha uma coleção delas!), proporciona uma emoção diferente e até um execiciozinho físico, pois ao contrario do controle remoto que facilita tudo,  ela nos permite escolher a música que queremos na base da munheca. Noutras palavras, isso é muito romântico!
Artistas como Chico Buarque de Hollanda, Maria Rita e Marcelo Yuka estão com seus CDs e Vinis na praça. A investida dos três artistas, de primeira linha na música brasileira, se deve ao numero de adeptos do vinil terem preferido o disco à moda antiga ao CD, segundo pesquisa de um dos donos da gravadora de Vinil Trama, o produtor musical Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina e irmão da cantora Maria Rita.
Agora o vinil, que é objeto de desejo de colecionadores, pesquisadores, DJs volta e cm total apoio de artistas como Jorge Benjor, Tom Zé, Rita Lee e bandas como Ultraje a Rigor, Titãs e Secos  & Molhados terão seus antigos trabalhos reeditados em Vinil, o que vai obrigar a muitos a tirar a velha radiola do sótão da casa ou ou pegar de volta e botar para funcionar aquele toca discos que estava em um canto pronto para ser dado para o Emaús.
Este escriba, que recentemente adquiriu um aparelho que além de tocar CD, MP3, Pen Drive, Cartão de Memória, toca também o velho Vinil e o Toca fitas está rindo à toa. E curtindo quase que semanalmente pelo menos 600 vinis guardados como verdadeiras relíquias. In: http://moraesdidascalia.blogspot.com/2011/12/viva-o-velho-vinil-esta-de-volta.html#comment-form




 Deixo, por fim, esse texto abaixo de Augusto Nunes, que falou sobre a morte de Jorge Amado da seguinte forma:

Sem ciúme nem sovinice, Nacib manda Gabriela sussurrar pessoalmente o recado à freguesia do bar em Ilhéus: na noite de 10 de agosto, a bebida vai ficar por conta da casa. O empresário Mundinho Falcão e o fazendeiro Ramiro Bastos resolvem que dividirão a mesma mesa. Naquele momento, em Mangue Seco, Perpétua revoga penitências e carolices para sugerir à irmã Tieta que vá preparando o vestido – vermelho, claro – mais atrevidamente decotado. Dona Flor decide que entrará no local da festa com dois maridos, muito dengo e nenhum constrangimento. No distrito de Itabuna, os coronéis Horácio da Silveira e Sinhô Badaró comunicam simultaneamente a suas tropas que, no dia 10, haverá uma trégua de 24 horas na luta pelas terras do cacau.
Reunido num boteco de Salvador com Cabo Martim, Curió e o Negro Massu, o sempre sabido Jesuíno Galo-Doido encontra a saída para a questão que atormentava um bando de amigos havia semanas: como anunciar a Salvador, com a pompa requerida pelo evento, a chegada da data que deveria estar assinada em vermelho nas folhinhas do Brasil? "O comandante Vasco Moscoso de Aragão vai entrar na barra com o maior navio já visto neste mundão", ilumina-se Jesuíno. A um sinal do capitão-de-longo-curso, será desfraldada a bandeira da Bahia e soará o apito mais estridente já ouvido nos sete mares. Então, brindes serão erguidos nos castelos, capitães da areia promoverão cantorias, explodirá o som dos atabaques em terreiros atulhados de orixás.
Os filhos da imaginação de Jorge Amado estavam todos prontos – e muitíssimo animados – para a celebração do 89º aniversário de quem os criou. Às 19h30 da segunda-feira, 6 de agosto de 2001, contudo, a voz do rádio avisou para o interior da Bahia e para todo o mundo que o mais popular e conhecido escritor brasileiro de todos os tempos falecera no Hospital Aliança, na capital, vítima de parada cardiorrespiratória. A trupe foi pega de surpresa e, sem recursos para vencer a travessia, não teve como chegar a Salvador a tempo do velório do pai imaginário. Guardaram as tralhas da festança de aniversário para chorar. Pelos alto-falantes, ouviram Zélia Gattai dizer diante do corpo do marido, companheiro de vida durante 56 anos: "Agora que Jorge se foi, estou de frente da realidade, mas não sei o que fazer".
Na sexta-feira, trocou-se a alegria da celebração por uma cerimônia triste, desejo de Jorge tornado público no livro Navegação de Cabotagem, de 1992. Ao pé de uma mangueira plantada pelo casal em 1962, as cinzas do escritor foram depositadas na terra úmida do inverno baiano, acondicionadas numa urna de madeira. Foi uma rara manhã sem cor na Casa do Rio Vermelho, no número 33 da Rua Alagoinhas. O lugar tornara-se, havia muito, uma lenda – a ponto de despontar com destaque em guias turísticos produzidos na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. O bom humor, ali, sempre foi lei.
A dor da Casa do Rio Vermelho, entre azulejos pintados por Carybé, telas de Calazans Neto, Di Cavalcanti, Floriano Teixeira e Aldemir Martins, não passou para o lado de fora do muro branco caiado. Nas ruas de Salvador, os três dias de luto decretados pelo governo federal, à exceção das bandeiras da Bahia e do Brasil a meio pau, seguiram-se do jeitinho que Jorge Amado gostava: com simplicidade, alegria e o não-me-queixo do povo brincalhão de Gregório de Mattos (1636-1695)







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