quinta-feira

"Brasilidades" por Tereza Mazzoli





A Biblioteca Pública do Estado da Bahia, localizada na Rua General Labatut, nos Barris, é o quadrilátero da cultura e tem 200 anos de história e vida.


Um mundo de conhecimento se anuncia logo na entrada, onde geralmente há exposições. Ontem, aproveitando o início das férias, passei boas horas da minha manhã num lugar mágico. A magia de uma biblioteca nos tira o fôlego. Jorge Luis Borges dizia que tinha vontade de morrer ao entrar numa Biblioteca, pois sabia que sua vida seria muito curta para dar conta da leitura de tantos livros... É bem parecida a sensação que sinto.


A primeira exposição que vi foi da baianaTereza Mazzoli, intitulada "Brasilidades". Em linhas gerais, nas 12 pinturas em óleo sobre tela, ali expostas, verificamos que a artista  retrata aspectos cristalizados de atividades pertencentes à cultura afrodescendente. Há um enfoque bem acentuado na figura da mulher, da capoeira,  e do samba. Lugar comum? Talvez, mas cada artista tem uma forma de se expressar. E Mazzoli faz isso muito bem nas suas pinturas moderno-figurativas. As imagens antropocêntricas têm cabeça, e não têm rosto, no entanto destacam-se pelo colorido e pela expressividade sensual das mulheres.


Em "Moça na Janela", "Brasilis Colores" (uma vendedora de frutas com um cesto na cabeça na praia de Copacabana) , "Garota de Vermelho", "Baianas em Copacabana" (baianas no Rio de Janeiro com seus trajes típicos nos tons de amarelo-laranja, lilás e verde-piscina, e detalhes como arruda, peixes e toalha branca, nos dão conta da imensidão de signos representativos da figura feminina na cultura afrodescendente)  e "As três Marias" (baianas de costas, com vestidos amarelo, rosa e laranja e vasos de flores na cabeça,  andando em direção a um rio, circundado por uma floresta. Simplicidade das roupas e porte de princesas. Quem seriam elas? Iriam fazer o que?) verificamos que a artista faz questão de destacar tradições que são esquecidas da realidade cultural e dos modos de ser e ver de um determinado grupo humano.


Em "Samba Brasil", "Samba em Copacabana", "Samba do Bar da Esquina", "Samba no Calçadão"e na tela sem título e sem especificações técnicas, que retrata um homem tocando e dançando com uma mulher, a temática musical é retratada. Em "Capoeira foi o que ele viu", há a associação dessa arte-esporte no combate à violência.  


 "Cangaceira", retratando uma "Maria" muito bonita numa paisagem do sertão nordestino e em trajes típicos do cangaço, apesar de ser a que mais gostei, por questões puramente culturais e mais próximas de minha realidade sertaneja, fez com que me perguntasse se  não estaria destoando das demais telas ali expostas? 


Uma outra pergunta que fiz à mostra "Brasilidades" foi o motivo da pintora baiana  de nascimento, indígena de origem e paulista de coração, como ela mesma se identifica em seu blog http://terezamazzoli.blogspot.com/, encontrar tanta inspiração no Calçadão de Copacabana para falar de seus personagens? Não que o  Calçadão mais conhecido do mundo não inspire, mas na Bahia temos signos representativos do que chamamos brasilidades. A história do Brasil nos confirma isso. A história da Bahia ratifica. E a história de Salvador dá provas vivas até hoje. Mas, deixemos a artista em paz, porque ela tem a liberdade da arte e pode representar como bem quiser.

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