quarta-feira

Presépios 2011






Era véspera de Natal. Ainda nas compras finais para a ceia.  Era uma sexta-feira alegre. Meu último dia de trabalho, antes do recesso.


Depois do almoço com a família, sai com o pequeno Batman, de pouco mais de noventa centímetros. Ele estava muito alegre e queria passear. Até mesmo pequenas compras de frutas e temperos são uma diversão para uma criança de 3 anos. 


Na volta, ele pediu-me para ver o Papai Noel. De pronto, lembrei-me da exposição dos presépios no Museu de Arte da Bahia (MAB). E disse é para lá que vamos. Passei na barraquinha de revistas no Corredor da Vitória, comprei água para o passeio que não tinha sido planejado. Dizem que as melhores coisas acontecem sem planejamento prévio. Pode até ser. De toda sorte, havia a pretensão de levar meu pequeno para ver a exposição. E tinha que ser antes da noite do dia 24/12. Era chegado o momento.
Subimos os lances de escada e entramos no MAB.


Antes de entrar na sala que se encontra a mostra dos presépios, ainda do lado de fora, encontramos um oratório de madeira com pinturas de flores e anjos. Lembrei-me dos oratórios das casas dos meus avós. Especialmente, do da casa do Vô Chico. Por um motivo bem triste de recordar: ele foi furtado por dois homens. Essa história é longa, posso até postá-la um dia aqui...


Voltando ao oratório do MAB: dentro havia esculturas, do século XIX, em madeira entalhada, de José Carvalho da Silva,  e policromada. A pintura é atribuída a Ernesto do Espírito Santo e fazem parte da coleção do MAB.


Logo na entrada da sala, depois da porta, à esquerda, vemos dois quadros: o primeiro é intitulado "Sagrada Família", feito em artesanato português (de Vila do Conde) com rendas de bilro. E o segundo, chama-se "Presépio". Trata-se de uma gravura colorida de Amaro Francisco do Pernambuco.
Sobre a origem dos presépios, os historiadores nos afirmam que no século III o nascimento de Jesus Cristo começou a ser celebrado. Em 1225 São Francisco de Assis, considerado o patrono dos presépios, fez uma encenação com pessoas e animais em homenagem ao nascimento de Jesus. Em 1567, no Castelo de Piccolomini, em Celano, foi criado o primeiro presépio nos moldes dos que conhecemos hoje, na Casa da Duquesa de Amalfi, Constanza Piccolomini.  No século XVIII,  a tradição dos presépios estava bem consolidada na Itália, na Espanha e em Portugal. A arte dos presépios persiste através dos tempos, sobretudo na estatutária religiosa. É temática preferida dos santeiros e ceramistas.  Porque afinal de contas, no Natal comemoramos o nascimento de Jesus, e não de Papai Noel.


E quais presépios encontramos nessa mostra?


Na extremidade da esquerda:
1) Presépios Portugueses das regiões do Minho (Barcelos), do Alentejo (Extremoz) e da Beira-Alta. Os primeiros  são feitos de barro policromado, e o do Beira-Alta foi feito dentro de uma ostra.
2) Presépios Peruanos em papel-marchê e madeira pintada;
3) Um presépio em cerâmica, de um ceramista desconhecido;


No Centro da Mostra: um presépio de Osmundo Teixeira, rico em detalhes, todo feito em barro cozido. Uma verdadeira obra de arte. E por falar nesses mestre, indico ainda a exposição "O Mundo de Osmundo", no Museu Carlos Costa Pinto. 


Na extremidade direita:
1) Outro presépio de barro cozido de Clóvis, um artista pernambuco;
2) Vários presépios de barro cozido de artistas pernambucanos;
3) Outro presépio pernambucano em artesanato popular;
4) Dois presépios de palha de Brasília, e um em jarina, de Santarém.


Na disposição da sala, encontramos mais três quadros, todos retratando passagens bíblicas do nascimento de Jesus. São eles: "A Virgem e o Menino", "Descanso na fuga para o Egito", ambas pertencentes ao MAB,  da coleção Jonathas Abbott. E "Santa Família",  retratando a amamentação de Maria, de José Rodrigues Nunes. 


Fernando Pessoa, no Guardador de Rebanhos VIII, nos diz coisas lindas sobre o nascimento de Jesus: "... Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
..........................................................................

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda..."

O Menino Jesus é o motivo maior do Natal.

E a ele que referendamos um dia da nossa jornada.

Um outro poeta que gosto muito, Manuel Bandeira, em Canto de Natal nos diz:

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

A poesia acima foi extraída da "
Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 137.


A homenagem que os artistas fazem à Sagrada Família, demonstram, em toda sua extensão, a importância da data natalícia de Jesus. Esse é o motivo do Natal.

Meu filho teve a oportunidade de saber essa informação o quanto antes. E mesmo assim continuou a perguntar: o passeio terminou, não vamos ao shopping ver o Papai Noel?


 Os valores são nós, pais, quem transmitimos. Educar um filho é uma das mais importantes tarefas que existem.

Um comentário:

  1. Gostei muito da postagem, Zil! E é maravilhosa a mensagem que vc fez questão de passar sobre celebrar o Natal.
    Um abraço e feliz 2012!

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