As flores que recebi, aos maços Apertadas em seda e em laços São expressões, são vestígios de um coração Acostumado em conquistar uma paixão Não me contento em ver, da janela, a pequena brecha de sol Quero mais: quero o céu num paiol E peixes furta-cor, pescados em sonho, sem anzol Quero mosaicos, paetês e retalhos, não quero ser caracol
Quero a elegância do homem no olor Quero seu olhar sincero em furor Quero o peso do seu ardor
Sentir seus beijos e seu calor Saber de atitudes e exemplos de valor Tudo isso sem sentir dor. Só amor.
A palestra, com a Prof. Ezilda Melo, "Direito e Arte na obra de Nietzche: possibilidade apolínicas-dionisíacas para o Direito", ocorrerá às 16h e será seguida por um debate com os Professores Mateus Abreu e Urbano Félix.
De quarta:
Seis horas. Um restinho de sol lá fora. Na boca da noite um cheiro de mar.
Um passarinho voa. Alguém ri e transborda o sentir. A compreensão da lei da natureza humana.
De quinta:
Seis horas. Sinto cheiro de jasmin. E ouço o som morno de uma harpa imaginária.
No arco-íris da imensidão, o crepúsculo alaranjado, o cinza das nuves, o esmeralda do mar... são
tintas da tarde que prenunciam o vinho da noite.
De sexta:
Seis horas. Nuvens rosadas que combinam com o dia. Não é triste, nem sofrida, nem tampouco vazia.
Perfumados botões de rosa são gerados em sua vida.
Um dia hão de chorar na hora da de despedida.
Sob um prisma da discrepância real do achar e do concreto,
Olhei-te e não te vi. Procurei e não encontrei. Os silêncios
vazios não me disseram nada. Tentei escutá-los e eles silenciaram. Um abismo de silêncio fez
hiatos entre nós. Que nada!(Nada combina com nada). Quando me achei, te perdi. E descobri que a poesia é para o
deleite. Para a paz de espírito.
E que a segurança é
precisa. Lancei meu olhar objetivo e fiquei em paz.
A
impusividade é passional
A
ação reflexiva nos coloca num patamar de decisão racional
Não
quero ser Modigliani na vida. Corri, você não me pega. Ficou para trás.
Uma poesia em co-autoria com minha amiga mais que poética, Karelayne Coelho, que descobriu os segredos do liquidicador. E fez um suco para a orelha. Os encontros poéticos são, de fato, para sempre.
No texto "The 'Bad Man', the Good, and the
Self-Reliant", Jack Balkin, nos convoca a refletir sobre quem é o homem
mau, o bandido, o criminoso, sobre quem é o homem bom e o auto-suficiente.
Como Professor de Direito Constitucional da Yale
Law School, Balkin nos convida a indagar sobre a teoria jurídica e os seus
conceitos ambíguos, que tem um conteúdo velado, dissimulado, que precisa de uma
desconstrução, decomposição ou desmontagem, apontando para a necessidade de uma
reconstrução contextualizada.
Neste sentido, quem é o homem mau? Aparentemente,
é o criminoso. Peguemos o exemplo do assaltante do ônibus 174 no Rio de
Janeiro. O rapaz de pré-nome Sandro ficou conhecido quando fez passageiros reféns
por um longo período de tempo, e teve a ação deflagrada por vários erros
sequenciados da polícia e seu aparato estatal. Esse rapaz, antes de ser o
bandido da história, teve um passado indigno, onde sequer ouviu a expressão
"dignidade da pessoa humana", tão bem quista no universo teórico da
nossa constituição e da doutrina jurídica moderna. Fazendo uma análise de quem
foi Sandro, podemos fazer um breve resumo da seguinte forma: ainda criança,
filho de pai desconhecido, teve a mãe assassinada na sua frente aos seis anos
de idade. Morador de rua, escapou da Chacina da Candelária no Centro do Rio de
Janeiro. Como tantos outros moradores de rua, que assolam nossos país, que
passam seus dias vagando em busca de uma sobrevivência animalesca, cometeu
vários furtos e roubos, e também usava crack. Sandro é uma espécie natural de
um processo de estrutura de organização social, que se baseia em classes, a
observar pelos dados fornecidos pelo IBGE, que nos classifica a partir da renda
per capita.
Nosso Estado só lembra de Sandro quando ele
comete crime. Ele só não foi para a cadeia, porque morreu dentro do carro da
polícia. No entanto, não nos surpreendamos, espécime igual a Sandro vai direto
para a cadeia, um lugar construído para esse tipo de pessoa. Quem mais vai para
a cadeia no Brasil? É só visitar um presídio: a realidade está lá, nua e crua.
Hoje, a moderna teoria do Direito Penal, nos fala
sobre a co-culpabilidade do Estado. E não é que é verdade? Claro. Carnelutti,
em "As Misérias do Processo Penal", nos esclarece que: "todos os
homens possuem incrustados em si o germe do bem e do mal, e o desenvolvimento
de um ou de outro depende, em muito do tratamento que recebem ao longo da
vida". Alguém dúvida? Em que pese a força que a sociedade exerce na
formação institucional de nosso ser, que inicia seu processo de construção
ainda no seio familiar, cada um de nós tem uma natureza, uma lei do ser. Em
razão disso, Balkin rejeita a afirmação consagrada do que é o homem mau, de que
o homem é bandido, pura e simplesmente, como um conceito dado. Ele rejeita essa
metáfora baseando-se na convicção de que para compreender a lei, também temos
de compreender as diferentes variedades do caráter humano e suas motivações.
Neste sentido, o que é que Balkin traz de novidade? Ele desconstrói o lugar-comum
da marginalidade. Ele desconstrói o estereótipo de homem mau e nos faz
verificar se, de fato, a exemplo de Sandro, ele é um homem bandido e criminoso?
Balkin vai mais longe. Desconstrói o lugar do
homem bom, baseando-se em Thoreau, afirma que "o único lugar para o
genuinamente 'homem bom' é na cadeia". Verificando que da espécie humana,
clarificam-se indivíduos de várias faces, ele nos fala dos modelos de homens:
aqueles são covardes, corajosos, conformistas, rebeldes, e tantos outros,
independentemente do fato de que a natureza de tudo é socialmente construído. Visões consagradas de que o legislador é um homem bom, é totalmente rechaçada por Balkin. Ele nos fala, justamente, o contrário: os homens maus vão promulgar leis perversas como instrumentos de dominação dos outros.
E Balkin vai além e nos fala do homem auto-suficiente, que não é apenas o indivíduo criminoso e egoísta, mas também pessoas como Thoreau, que decide violar a lei no interesse de um bem maior. Portanto, Balkin, questiona o lugar consagrado do legislador e diz mais: a lei pode e deve ser violada. Os motivos ensejadores dessa violação são: motivos ímpios ou insensíveis; violação em razão da coragem de levantar-se para que o resto da população saiba que a lei é injusta; e violação da lei porque a julgam incompatível com seus olhos, com seu modo de ser.
Nessa desconstrução, pergunto-me: Sandro não é mau? Nossos legisladores é que são?
Responda.
[1]
Advogada. Historiadora. Professora de
Direito da Faculdade Ruy Barbosa e da Faculdade Social da Bahia. Mestranda em
Direito Público - UFBA. Blog: www.ezildamelo.blogspot.com. Twitter:
@ProfEzildaMelo
O estudo da História Geral e do
Direito através da análise dos processos de evolução. A interligação fática e
a reprodução de modelos políticos ideológicos em diversos Estados, inclusive
no Estado Brasileiro.
OBJETIVOS:
Estimular o aluno, buscando
mostrar que o Direito advém de processo histórico transcende à idéia de lei.
Fazer com que se perceba a existência de outros valores, especialmente a
justiça, que deve ser vista como maior objetivo do exercício profissional.
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO:
Conceito de História. História
Geral e Brasileira. Marcos fáticos da História. História e Direito:
Antiguidade: Grécia e Roma; Idade Média e ordem feudal, dogmática canônica;
Idade Moderna, absolutismo e expansão colonial; Idade Contemporânea,
revolução industrial e revolução francesa. Introdução Histórica ao direito
Brasileiro: Colônia; Império e República.
METODOLOGIA:
Aulas expositivas com aplicação de seminários versando
sobre casos práticos, a fim de propiciar uma maior participação dos alunos.
CRITÉRIOS DE
AVALIAÇÃO:
02 provas dissertativas e com questões de múltipla escolha,
além dos exercícios continuados.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
- Lopes, José Reinaldo de Lima.
O Direito na História. Lições Introdutórias. São Paulo. Max Limonad, 2002;
- Wolkmer, Antônio Carlos
(Org.). Fundamentos de história do direito. Belo Horizonte. Del Rey, 2001;
História do Direito no Brasil. Rio de Janeiro. Forense. 2003;
- Bobbio, Noberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro. Campus.
1992
BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR:
- David, René. Os Grandes Sistemas do Direito
Contemporâneo. São Paulo. Martins Fontes. 1998;
- De Cicco, Cláudio. História
do Pensamento Jurídico e da Filosofia do Direito. São Paulo. Saraiva. 2006;
Ontem, foi 08 de março. Dia Internacional da Mulher. Em que se observe a melhoria da legislação na proteção à mulher, a prática cruel da violência é tão arraigada, que mesmo um crime da mais alta crueldade tem uma penalidade tão pequena, como pudemos observar esta semana no julgamento do goleiro Bruno. O que esse homem fez excede à imaginação mais perversa. Bem-sucedido profissionalmente, ganhando muito dinheiro por ser de um time famoso, em entrevista a jornalistas, perguntou: "quem não deu um tabefe em mulher?".
A tragédia foi anunciada.
Eliza anunciou várias vezes. Não recebeu a proteção devida. E o resto da história, não preciso contar, porque a mídia explorou por meses e meses, e nos chocou à cada momento.
Mais uma mulher morta com requintes de crueldade no Brasil. Seu corpo foi jogado para que os cachorros comessem. O bebê ficou sem a mãe. Pensemos nessa criança. Pensemos no exemplo que o goleiro famoso e psicopata lhe passou. Que essa criança não repita os ensinamentos do pai! Que saiba que a mulher deve ser respeitada, bem tratada, amada, mesmo quando os ensinamentos machistas dizem o contrário.A mulher gera a vida.
Mulheres têm direito de viver sem a sombra da violência
machista, diz ministra sobre caso Eliza Samudio
Paula Laboissière Repórter da Agência Brasil
A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres,
Eleonora Menicucci, avaliou hoje (8), ao comentar o desfecho do caso Eliza
Samudio, que todas as brasileiras têm o direito de viver “sem a aterrorizante
sombra da violência machista e patriacal”.
Por meio de nota pública divulgada hoje (8), Dia Internacional da Mulher, ela
classificou como estarrecedora a declaração do ex-goleiro Bruno Fernandes de que
Eliza foi assassinada, esquartejada e teve seu corpo jogado aos cães.
“É urgente invertermos essa ordem de vulnerabilidade”, disse. “As mulheres
não aceitam mais a violação de direitos, a exemplo do que ocorreu com Eliza
Samudio, que lutou pelos direitos gravídicos, reconhecimento à paternidade e
pensão alimentícia de seu filho”, completou.
Menicucci destacou ainda que a Lei Maria da Penha é o marco legal que une os
Três Poderes da República e a sociedade na tentativa de retirar as mulheres “do
ciclo perverso” da violência de gênero.
“Por fim, manifesto meus cumprimentos à Justiça de Minas Gerais pela
imparcialidade e competência na condução do julgamento”, disse. “É com
compromisso e atitude que estamos vencendo a violência contra as brasileiras”,
destacou.
Bruno foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo
assassinato e pela ocultação do cadáver de Eliza e também pelo sequestro e
cárcere privado do seu filho com a jovem.
Aplicativo lançado no Rio vai ajudar no combate à violência contra a mulher
Akemi Nitahara Repórter da
Agência Brasil
Informações sobre equipamentos públicos da rede de
enfrentamento à violência contra a mulher agora podem ser localizados pelo
telefone celular. Foi lançado hoje, Dia Internacional da Mulher, um aplicativo
gratuito que traz, além do texto completo da Lei Maria da Penha, um guia
explicativo de como agir em casos de agressões e os órgãos a ser procurados com
sua localização, como delegacias da Mulher, postos de saúde e defensorias
públicas.
O aplicativo foi desenvolvido em uma
parceria entre o Fundo das Nações Unidas para a Igualdade de Gêneros (ONU
Mulheres), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa das
Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU Habitat), com apoio do Consulado
Britânico. De acordo com a coordenadora de Eliminação da Violência contra
Mulheres da ONU Mulheres, Daniela Pinto, o mecanismo pretende ajudar as vítimas
a buscar proteção.
“O aplicativo vem tentar responder
uma demanda das mulheres de várias comunidades aqui do Rio de Janeiro, que, no
ano passado, participaram de um diagnóstico que identificou o que faltavam saber
para implementar a Lei Maria da Penha. Elas sabiam da lei, mas elas não sabiam
como acessá-la e de que forma o governo poderia ajudá-las na proteção dos seus
direitos”, disse.
O programa funciona em qualquer
aparelho de telefone ou tablet que tenha acesso à internet,
independentemente da marca. O projeto é uma iniciativa piloto, com informações
apenas da cidade do Rio de Janeiro. O objetivo, segundo Daniela, é ampliar o
alcance para o estado e futuramente para todo o Brasil.
O aplicativo pode ser baixado
gratuitamente no site do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (www.cedim.rj.gov.br.), que também foi
lançado hoje e traz informações completas sobre a rede especializada de
atendimento à mulher. A terceira iniciativa lançada hoje foi a cartilha Uma
Vida sem Violência é Um Direito da Mulher - Em Briga de Marido e Mulher o Poder
Público Mete a Colher.
De acordo com a subsecretária
estadual de Políticas para as Mulheres, Angela Fontes, as medidas são
importantes para facilitar o acesso à informação. “Quando você tem, no
site, na cartilha ou no celular, as informações da rede que pode
te apoiar enquanto vítima de violência doméstica, você pode seguir adiante. Se a
informação não flui, você não consegue”, disse.
No âmbito da prefeitura, foi criada
hoje a Secretaria de Políticas para as Mulheres do Município, que ficará sob o
comando de Ana Rocha. “São passos importantes no sentido de enfrentar a
discriminações que a mulher ainda sofre na sociedade. E o fato de criar
mecanismos de primeiro escalão dá um maior poder às mulheres de avançar em
políticas que combatam a discriminação de gênero. Eu acho que temos um desafio
grande pela frente e a nossa determinação é que o Rio de Janeiro seja uma cidade
referência no combate à discriminação e à cidadania plena da mulher”, disse Ana
Rocha.
Também hoje, o prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, assinou o decreto de formalização do Centro Especializado
de Atendimento à Mulher em Situação de Violência e do Abrigo para Mulheres em
Situação de Violência, além da criação da Casa da Mulher Carioca, um espaço de
acolhimento e de fortalecimento da cidadania da mulher.
“As casas vão ter um atendimento
multidisciplinar e também encaminhar as mulheres para os serviços no campo da
educação, da saúde e do trabalho. Hoje nós já assinamos um termo de cooperação
técnica com a Secretaria do Trabalho, para oferecer cursos de qualificação,
abrindo caminho de empregos para as mulheres. As casas também vão ter
atendimento para tirar a Carteira de Trabalho, cursos de capacitação e
atividades de convivência e culturais para atrair não só as mulheres, mas a
comunidade na conscientização do combate à discriminação da mulher”, declarou a
subsecretária estadual de Políticas para as Mulheres, Angela Fontes.
Há uma música do Arnaldo Antunes, chamada "Socorro" que é um tiro na falta de sentimentos.
A letra é essa:
Socorro! Não estou sentindo nada Nem medo, nem calor, nem fogo Não vai dar mais pra chorar Nem pra rir...
Socorro! Alguma alma mesmo que penada Me empreste suas penas Já não sinto amor, nem dor Já não sinto nada... Socorro! Alguém me dê um coração Que esse já não bate nem apanha Por favor! Uma emoção pequena, qualquer coisa! Qualquer coisa que se sinta... Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva Qualquer coisa que se sinta Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva... Socorro! Alguma rua que me dê sentido Em qualquer cruzamento Acostamento, encruzilhada Socorro! Eu já não sinto nada... Socorro! Não estou sentindo nada [nada] Nem medo, nem calor, nem fogo Nem vontade de chorar Nem de rir... Socorro! Alguma alma mesmo que penada Me empreste suas penas Eu Já não sinto amor, nem dor Já não sinto nada... Socorro! Alguém me dê um coração Que esse já não bate Nem apanha Por favor! Uma emoção pequena qualquer coisa! Qualquer coisa que se sinta... Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva Qualquer coisa que se sinta Tem tantos sentimentos Deve ter algum que sirva...
Não sentir nada é horrível.
Até a tristeza pode ser uma poesia do compositor da dor e ser a letra de uma nova música que talvez nem toque. E que nem seja a minha canção preferida. Apesar de tudo, os encontros poéticos são mais que uma paixão desbotada e mais que uma amizade colorida.
Por isso, poeta, temos a realidade e a poesia. Eu prefiro, a última. Temos a Romaria na Insensatez Solar e na Lua de São Jorge. E o destilar do mel na noite da quinta. De você, quero as palavras. Vamos fazer poesia, de noite ou de dia, em qualquer lugar.
O lado fatal I
Quando meu amado morreu, não pude acreditar:
andei pelo quarto sozinha repetindo baixo:
"Não acredito, não acredito."
Beijei sua boca ainda morna,
acarinhei seu cabelo crespo,
tirei sua pesada aliança de prata com meu nome
e botei no dedo.
Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso. II
Muita gente veio e se foi.
Olharam, me abraçaram, choraram,
todos com ar de uma incrédula orfandade. III
Aquele de quem hoje falam e escrevem
(ou aos poucos vão-se esquecendo)
é muito menos do que este, deitado em meu coração,
meu amante e meu menino ainda. IV
Deus
(ou foi a Morte?)
golpeou com sua pesada foice
o coração do meu amado
(não se vê a ferida, mas rasgou o meu também).
Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,
disse bem alto meu nome no quarto do hospital,
e partiu. Quando se foram também os médicos e suas
[ máquinas inúteis,
ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?)
o meu amado e eu.
Enterrei o rosto na curva do seu ombro
como sempre fazia,
disse as palavras de amor que costumávamos trocar.
O silêncio dele era absoluto: seu coração emudecido
e o meu, varados por essa dourada foice.
Por onde vou deixo o rastro de um sangue denso
[e triste
que não estancará jamais. V
Insensato eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
Insensato, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira. Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja ao meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz. Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo). Sobrevivo, mas pela insensatez. VI
Pensei que estávamos apenas no começo:
a casa mal-e-mal nos alicerces.
Mas provavelmente estava concluída
e eu não sabia.
Tínhamos erguido em nossos poucos anos
as paredes necessárias;
o telhado se inclinava ao jeito certo,
e havia vidraças nas janelas.
(Éramos felizes ali dentro
mesmo com as tempestades de fora.)
Tudo se construiu num lapso tão curto:
até a porta de entrada, por onde ele saiu
casualmente como quem vai comprar jornal.A porta está apenas encostada
embora pareça alta, dura, intransponível:
do lado de lá, o meu amor vê as maravilhas
que tanto nos intrigavam nesta vida. VII
Tanto escrevi sobre a morte
em livros e poemas nesses anos:
sempre achei que a entendia um pouco. Mas agora que ela me dilacerou a vida,
me rasgou o peito,
me levou o amado,
sinto que mal começo a compreender
sua mensagem:
tirando-o de mim, a morte o devolve
para que seja mais meu. Dentro de mim um quebra-cabeças, e nele
[o meu amado.
Nem Deus o tirará daqui. VIII
O meu amado morreu:
viver sem ele, como dói.
Não tivemos filhos juntos,
nosso passado foi tão breve que era sempre
[presente.
Um dia ele mandou fazer um par de alianças
de pesada prata, parecendo antigas;
gravou apenas nossos nomes, sem data, e disse:
"Somos um só desde sempre."
Ainda não acreditei em sua morte,
e talvez isso me salve por enquanto.
Levantar-me da cama cada dia é um ato heróico,
acender o cigarro, atender o telefone, tomar café.
Mas faço tudo isso:
falo, ando, recebo visitas.
Compro móveis para a casa onde moro sem ele,
imaginando: será que ele vai gostar? De algum secreto lugar me vem a força
para erguer a xícara, acender o cigarro,
até sorrir quando alguém me diz:
"Você hoje está com a cara ótima",
quando penso se não doeria menos
jogar-me de um décimo-primeiro andar. IX
Amado meu, agora morto,
postado do lado de lá da fronteira que nos seduzia,
mudo e quedo como se não existisses:
eu sei que existes,
intensamente, ardentemente existes,
feito e desfeito no fogo de um amor maior que
[o nosso
mas que nos abrange. Amado meu, morto agora e para sempre vivo,
hás de ter ainda o intenso olhar que me entendia,
as curvas amorosas da boca que chamou meu nome,
as belas, inquietas mãos que ardiam nas minhas.
Ajuda-me agora, silencioso que estás,
a suportar a sobrevida
e a decifrar esse alto, intransponível muro que me
[cerca. X
Nunca tivemos filhos juntos, e ele reclamava:
"Nosso amor merecia um filho ao menos. "Nosso filho é a minha dor de hoje,
é a fulguração que nos deixava tontos,
é o novelo da memória que teço e reteço
nas minhas insônias. Nosso filho é o meu tempo de agora
para falar do meu amado:
da sua força e sua fragilidade,
da sua indignação e seus prantos,
da sua necessidade de ser amado e aceito
como finalmente deve estar sendo, por inteiro,
na realização de todos os seus vastos desejos. XI
O meu amor enveredou por sua morte
como quem vai a um encontro de amor:
impaciente.
Deixou-me este coração golpeado,
esta derrota.
Mas também ficou a claridade desses anos
e a sensação de que ele finalmente
vive o encontro de amor
que toda a devoção de minha vida não lhe poderia
[dar.(Um dia, celebraremos juntos.) XII
Se me tivessem amputado braços e pernas
e furado o coração com frias facas
e cegado meus olhos com ganchos
e esfolado a minha pele como a de um podre bicho
- nada doeria mais
que te saber morto, amado meu,
depositado
nesse irremediável poço de silêncio de onde não
[respondes.(A não ser em sonho, quando me olhas
e tuas mãos tocam as minhas espalmadas,
abertas, feridas, vazias.) XIII
O meu amado morreu:
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
[banalidade.
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
a claridade que me permite ver
em todos os rostos o seu rosto
em todos os vultos o seu vulto
e ouvir em todos os silêncios
o seu inesperado riso de criança XIV
Estranha a vida:
fico tangendo meus dias
como um rebanho de ovelhas desordenadas
nessa triste e fria cidade de Porto Alegre
onde ele gostava de estar
olhando o pôr-do-sol e vendo amigos.
"Morrer é tomar um porre de não-desejo"
dizia o meu amado, que era um homem desejoso:
desejava a vida, desejava a morte, desejava
[a justiça,
desejava a eternidade e a paz. Estranha a vida:
quando releio uma frase sua,
"viver é modular a morte",
em sangue e dor preparo a minha ida. Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear. Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor comanda a minha vida. XV
Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui. Façam silêncio ao meu redor.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade. XVI
Levo meu amado no peito
como quem carrega nos braços para sempre
uma criança morta. XVII
Amado meu, que tanto ensinaste
de mim a mim mesma, e do mundo
a quem o conhecia pouco: quando se desfizer escura a noite desta perda,
quero enxergar pelos teus olhos,
amar através do teu amor
as coisas que me restaram. Amado meu, vivo em mim para sempre,
apesar da ruga a mais
e do olhar mais triste,
devo-te isto:
voltar a amar a vida
como agora amas, inteiramente,
a tua morte. Lya Luft
Não precisa de comentário.
Mas, o meu é esse:
Lidar com a morte do ser amado: é uma desolação, um completo abandono de si mesmo.
Um renascer dolorido, pior do que o nascimento.
É o dionisíaco que Nietszche nos fala em "A origem da tragédia". Ser forte quando tudo diz o contrário.
Ir adiante quando se quer parar. Recomeçar quando o tempo já foi e já era hora de partir.
Colóquio Direito e Arte – Uma nova forma de pensar o Direito
Cientes da relevância e atualidade da discussão acerca das múltiplas interfaces entre o Direito e a Arte no espaço da Graduação e da Pós-Graduação em Direito, tanto em termos epistemológicos (“O Direito como Arte”), quanto em termos de novas metodologias, ferramentas e técnicas de Ensino e Pesquisa, a Turma 2012.02 da disciplina Metodologia da Pesquisa em Direito (PPGD/UFBA), sob a Coordenação Científica dos Professores Rodolfo Pamplona Filho e Nelson Cerqueira, apresenta o “Colóquio Direito e Arte – Uma nova forma de pensar o Direito”, com a proposta de debater o tema, sempre de forma aberta, dialógica e interativa com os palestrantes, convidados e participantes em geral, ao longo de um dia de atividades (mesas, debates, oficinas, etc.).
DATA: 15/03/2013
LOCAL: Sala da Congregação, Térreo, da Faculdade de Direito da UFBA (Campus Graça)
HORÁRIO: 09:00h às 22:00h (confira programação)
INSCRIÇÃO: R$ 10,00 (estudante) e R$ 20,00 (profissional) – por e-mail: direitoearteufba@gmail.com (com indicação do NOME COMPLETO e INSTITUIÇÃO, para reserva de vaga e confirmação mediante comprovação do pagamento) e na Secretaria da Pós-Graduação (PPGD/UFBA), 2º andar da Faculdade de Direito da UFBA (pagamento).
Obs.: No ato da inscrição deve ser manifestado o interesse na realização de uma das oficinas disponíveis, para que seja realizada também a inscrição nestas até o número total das vagas previstas para cada uma.
Nada é mais grave e perigoso do que emoção juvenil em adulto." Marília, personagem do filme "Últimos Diálogos"
"Me deixa em paz, rapaz. Vá chafurdar no lixo como você faz sempre". Assim o ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF e do CNJ, dirigiu-se ao repórter do Estadão que tentava lhe perguntar algo. Os disparos do ministro foram presenciados por diversos jornalistas.
"Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas
sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saia
delas
Como um corpo ressequido
que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma!
E parecia-lhe que entrava enfim numa existência
superiormente interessante...
Onde cada hora tinha seu intuito diferente
Cada passo conduzia um êxtase...
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..."
Como gosto dos cantores que usam poesia/literatura na música. Declamações são um luxo.
"Como são belos os dias Do despontar da existência ! Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor !"
Há exatamente um mês, escrevi uma poesia que, entre culturalismos e fé, pedi a Iemanjá que levasse tudo que não fosse para ficar.
À Iemanjá.
No vermelho rio, as flores ofertadas, dançam em rodopio.
A vida, vai e vem, nestas ondas em cio... iemanjá me chamou e eu vim, e oferto, meus sentimentos, e os jasmins perfumados que colhi.
Oh, rainha das águas, quanto de seu azul são lágrimas salgadas? Suas mulheres ornadas são tão desejadas!
E sua força arrebatadora, sem exigir sacrifícios, tão festejada!
Oh, Rainha dos mares, das pescadoras de dores e amores, o sertão vai virar mar para te ofertar...as flores de cactus, as flores dos bulgaris, as flores que as agricultoras sertanejas colheram para te entregar.
Oh, Rainha dos Mar, no dois do dois, todo tempo é de amor.
E o que não é para ser, a maré levará.
Na correnteza da vida, nada fica, tudo muda,
Como as ondas que vão e vem, num ir e vir, do infinito, tudo que já foi não voltará. O tempo passa e leva o que não é para ficar.
Nas profundezas do mar azul, nas entranhas mais profundas dessa imensidão de águas, o mistério da criação é uma dor salgada e profunda, onde a criadora, mãe adorável, nos acalenta
E pergunta:
O que queres, onde vai chegar?
Leva, leva ondas do mar, leve para a grande senhora, leva para o lugar onde o azul se perde no horizonte, toda essa sujeita humana de sentimentos.
Afogue-os no mar revolto, nos liberte da tormenta.
E quando mais tarde tudo tiver terminado, possamos está purificados pela água benta, pela água salgada das lágrimas de todos que já passaram nesta vida.
Odoiá. Rainha do mar. Odoiá.
Hoje, 02 de março, repito: que as águas caiam e lavem a alma. Que a purifiquem. Que as águas tragam tudo que é para ficar. Porque o movimento é ir e vir, tal qual as ondas.
"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo um carinho no momento preciso o folhear de um livro de poemas o cheiro que tinha um dia o próprio vento..." Mário Quintana
Quando chega março a primeira coisa que lembro é do aniversário da minha irmã maravilhosa. A primeira. Minha bonequinha. Ela nasceu no primeiro do mês.
Março também me lembra a comemoração do dia internacional da mulher. Toda ela gera a vida.
E tem uma música que é especial "Águas de Março":
"É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumueira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Pau, pedra, fim, caminho
Resto, toco, pouco, sozinho
Caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol
São as águas de março fechando o verão É a promessa de vida no teu coração". Tom Jobim
Que as águas de março caiam no sertão. A falta de água no Nordeste brasileiro é um problema muito maior do que, simplesmente, climático.
"Eu e Tu - a filosofia do relacionamento" - Martin Bubber
O mundo é duplo para o homem, segundo a dualidade de sua atitude. A atitude do homem é dupla de acordo com a dualidade das palavras-princípio que ele pode proferir. As palavras-princípio não são vocábulos isolados mas pares de vocábulos. Uma palavra-princípio é o par Eu-Tu. A outra é o par Eu-Isso no qual, sem que seja alterada a palavra-princípio, pode-se substituir Isso por Ele ou Ela.
A proposta ricoeuriana defendida em Du texte à laction (1986) é:"embora primordialmente pertencente à esfera do discurso; a imaginação pode ser generalizada à esfera da ação".
Ele me presenteou com Adélia Prado. Foi um encontro lindo. Que fantástica é a Adélia. Tão sensível. Tão mulher. Decerto, ama-se.
Gostei tanto das poesias:
O amor no éter
Há dentro de mim uma paisagem entre meio-dia e duas horas da tarde. Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água, entram e não neste lugar de memória, uma lagoa rasa com caniço na margem. Habito nele, quando o...s desejos do corpo, a metafísica, exclamam: como és bonito! Quero escrever-te até encontrar onde segregas tanto sentimento. Pensas em mim, teu meio-riso secreto atravessa mar e montanha, me sobressalta em arrepios, o amor sobre o natural. O corpo é leve como a alma, os minerais voam como borboletas. Tudo deste lugar entre meio-dia e duas horas da tarde.
E
O Vestido
No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um ...rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda.
E da frase:
"Escreve-se para dizer: sou mais que um simples corpo".
É isso mesmo. Somos mais que corpos. Temos alma. E essa alma que temos é um mistério de sentimentos e de sensibilidades.
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e a Faculdade Ruy Barbosa lembram nesta sexta-feira (1/3) os 90 anos da morte do jornalista e jurista baiano Ruy Barbosa.
A data será reverenciada com uma palestra do advogado Antonio Luiz Calmon Teixeira, presidente do Instituto dos Advogados da Bahia, no auditório do campus do Rio Vermelho da Faculdade Ruy Barbosa às 9h30.
O evento é promovido pela Faculdade, pela ABI, pelo Instituto de Advogados da Bahia e pelo Grupo de Pesquisa “Contando e Recontando Ruy Barbosa”, coordenado pelas Professoras Ezilda Melo e Maria Helena Franca.
O advogado Antonio Luiz Calmon Teixeira é também presidente do Colégio de Presidentes dos Institutos de Advogados do Brasil. O presidente da ABI, jornalista Walter Pinheiro, o convidou e a iniciativa contou com a aquiescência do diretor da Ruy Barbosa, professor Rogério Flores.
A palestra será dirigida a alunos do Curso de Direito, colegas e amigos do orador, diretoria da ABI e público em geral. A ABI e a Faculdade Ruy Barbosa, do grupo norte-americano DeVry, são parceiros na preservação e manutenção da Casa de Ruy Barbosa, localizada na rua do mesmo nome, imóvel em que o jurista baiano nasceu e onde estão objetos que lhe pertenceram, bem como livros, quadros e documentos.
Águia de Haia
Ruy Barbosa de Oliveira morreu aos 73 anos. Nasceu em Salvador em 5 de novembro de 1849 e morreu em Petrópolis em 1º de março de 1923. Foi jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador brasileiro. Considerado um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, foi também um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República, juntamente com Prudente de Morais.
Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais. Primeiro Ministro da Fazenda do novo regime, sua breve e discutida gestão foi marcada pela crise do encilhamento sob a proposição de reformas modernizadoras da economia. Destacou-se, também, como jornalista e advogado.
O jurista baiano foi ainda deputado, senador e ministro. Em duas ocasiões foi candidato à Presidência da República e empreendeu a Campanha Civilista contra o candidato militar Hermes da Fonseca. Notável orador e estudioso da língua portuguesa foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, sendo presidente entre 1908 e 1919. Como delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia (1907), notabilizou-se pela defesa do princípio da igualdade dos estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o apelido de “O Águia de Haia”.
Teve papel decisivo na entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Já no final de sua vida foi indicado para ser juiz da Corte Internacional de Haia, um cargo de enorme prestígio, que recusou. Ruy fez seu testamento político na fórmula de um epitáfio, que ele mesmo escreveu para sua pedra funerária: “Estremeceu a Justiça; viveu no Trabalho; e não perdeu o Ideal”.
Hoje, homenageia-se com mais ênfase Ruy Barbosa, porque a data de primeiro de março é o dia que relembra a morte do Águia de Haia. Neste ano de 2013, são 90 anos de partida.
Tivemos, na Faculdade Ruy Barbosa, uma justa homenagem àquele que foi o maior jurista de todos os tempos. Contamos com a presença do Presidente da Associação Baiana de Imprensa, Walter Pinheiro, do Advogado Antônio Luiz Calmon Teixeira, e de uma seleta plateia.
Chamei atenção para a necessidade da leitura das obras de Ruy Barbosa, em especial "Oração aos Moços" e "O dever do Advogado". Esses livros podem ser baixados nos seguintes endereços eletrônicos, respectivamente:
Meus alunos da Faculdade Ruy Barbosa, das disciplinas "Introdução eo Estudo do Direito" e "Profissões Jurídicas" deverão lê-los, pois debateremos em sala. Meus alunos de História do Direito, da Faculdade Social da Bahia, deverão lê-los, destacando as contribuições do Águia de Haia para o Direito Contemporâneo. Todos meus alunos e ex-alunos, fica a dica da leitura.
A biografia de Ruy Barbosa é muita extensa. Destaquei, conforme entrevista que concedi à TV Justiça, e que irá ao ar no dia 31/01/2013 no Programa "Tempo e Memória", o lado humano e sentimental. Quando conheceu sua estimada Maria Augusta descobriu o amor verdadeiro. No período que namoraram à distância, escreveu 64 cartas de amor e saudade, que estão editadas na obra "Cartas à Noiva".
Concedi duas entrevistas, que vão ao ar hoje, ainda no sentido da homenagem ao ilustre baiano: para a TV Aratu e para o Jornal da Educadora.
Por fim, lhes deixo uma carta de amor de Ruy enviada à Maria Augusta:
Maria..., minha muito querida noiva. Pedes-me, na encantadora carta que tantas horas de suave alegria me tem dado, não me entregue eu absolutamente à tristeza a ao desânimo. Um desejo teu é para mim mais que uma ordem; não atua só na minha vontade: subjuga, até, domina, transmuda os meus mais íntimos sentimentos. Podes, portanto, tranqüilizar-te. Graças à influência daquelas linhas de tua mão, já agora a saudade, por mais que me consuma, não me é tão amarga, nem me entorpece a atividade, que necessito para me não sair mal desta minha árdua tentativa. Como, porém, o teu senhorio é brando e cheio de afeto, hás de me permitir que eu ponha uma condição à minha docilidade: é que repitas constantemente a tua primeira fineza, é que me escrevas com a mesma freqüência com que eu o tenho feito. Basta que diariamente reserves dez minutos do teu tempo, e os empregues em dar notícias tuas a teu noivo, em cujo coração cada meiga palavra tua é reanimadora como um celeste orvalho. Ainda quando te fosse um sacrifício, que tenho certeza não é, persuado-me que não hesitarias, com a alma que eu te conheço, em fazeres-me este bem, do qual ninguém neste mundo, senão tu, possui para comigo. Infelizmente, ao passo que daqui para a Bahia temos tido não sei já quantos correios, muitos dias têm decorridos sem termos comunicações do norte. A minha ansiedade, pois, é imensa. Resignado, como bem vês que, até onde é possível, estou, devo, todavia, ter a franqueza de confessar-te que ocasiões há em que a saudade me dói infinitamente. Ainda ontem, minha querida noiva, tive que retirar-me desorientado, precipitada e quase maquinalmente de uma casa, onde fora a uma visita de cortesia. Duas raparigas lembram-se de cantar. Imagina agora o quê, minha Maria..., “Rizzio e Maria” e “Io vivo e Io t’amo!, cantaram isso e sucessivamente, um dueto após outro, como se um capricho do acaso pretendesse aumentar ainda, com essa espécie de acinte os meus íntimos sofrimentos. Faltava ali a arrebatadora voz de nossa Irmãnzinha Adelaide: faltava a doçura deliciosa e terníssima de tua voz.. Mas, querida noiva de minha alma, a frase, a música eram as mesmas. A minha sensibilidade, já excitadíssima,, acordou-me, portanto, como uma vivacidade irrepreensível. Ah! Com que amargor todas as recordações mais felizes, mais poética e mais puras de nosso amor não me reviveram então!,e que saudade, que cruel, que insuportável saudade! Não me pode conter, minha querida noiva. Nem sei o desazo com que me despedi, nem te posso contar as lágrimas que em casa, logo depois, chorei, relendo então, para refúgio de minha alma, obscurecida de indizível tristeza, a tua carinho carta, que já tenho de cor. Que informações me dará da nossa amada Irmãzinha Adelaide? Diz-me o coração que todos os perigo ter-se-ão já desvanecido. É o que eu com maior sofreguidão espero saber. No entanto, abraça-a, e acaricia-a tu muito afetuosamente, em nome deste irmão, que sincera e decididamente estremece por ela, pela sua vida, pela sua felicidade, por todos aqueles a quem ela ama. Beija também a Mamãe, a Mimita e Anitinha. A teu Pai, ao Dobbert, ao Souto mil lembranças e abraços. A este nosso caríssimo amigo dize especialmente que eu escrevi-lhe ontem; mas que, tendo, por me não lembrar de que hoje era dia santo, deixado a carta na gaveta do meu escritório, não sei se haverá meio de a remeter por este vapor. Entretanto,vou tenta-lo; e, para esse fim, sigo agora de propósito para a cidade. O Cazuza que aceite muitos abraços e saudades, e tu, em mil beijos, imaginados apenas, mas não menos sentidos, ardentes, apaixonados, o coração de teu noivo. RUI Corte, 15 de junho de 1876 Cartas à noiva Maria Augusta, De: Rui Barbosa FCRB (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...