sexta-feira

Mulher sem história, mulher invisível


Nasceu. Simples assim.
Uma menina soluçava, berrava e a mãe não entendeu tamanho choro.
Menina de roupa maltrapilha, sem escola e sem hospital
Engravidou aos 14. Teve filhos. Abortou inúmeras outras vezes
Foi agredida, espancada e quase morreu por causa da violência dos companheiros
Fez faxina e cuidou de crianças na casa de outras mulheres
Seus filhos cresceram sem creche e escola; brincavam com armas naquela paisagem de Babel
Alguns foram para a prisão, outros morreram no caminho da vida
Aquela mulher sem voz, gritava, em casa, de desespero
Trabalhava sem carteira assinada
Não contribuía para a previdência
Não tinha FGTS para sacar
Pagava o aluguel e comia muito mal aquela comida envenenada
Com câncer, sem dentes, na cama do SUS, sem parentes e amigos para ajudar
Sem dinheiro e perspectivas
Ia para a Assembleia pedir que o divino abençoasse aquela existência
Aquela mulher já passou.
 Ninguém nem lembra.
O tempo apagou seu nome e existência.
Seu sofrimento pode ser sentido e refletido como mais uma existência das mulheres sem história.
13/03/2019

Ezilda Melo é Advogada. Professora Universitária. Mestra em Direito Público pela UFBA. Especialista em Direito Público pelo Curso JusPodivm. Autora de livros e artigos jurídicos. Palestrante. Graduada em Direito pela UEPB e em História pela UFCG. Co-organizadora, co-autora do livro "Feminismos, Artes e Direitos das Humanas" - Para adquirir a obra, clique aqui.

Publicadohttps://emporiododireito.com.br/leitura/mulher-sem-historia-mulher-invisivel?fbclid=IwAR3zOfKwp-zlvZEuu-c4dvdoiYV-8X6teWbXbTXLl2TE-DU7sFP1l0Qd05w

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